FRANCA BASQUETE: ENTRVISTA COM HÉLIO RUBENS

6 de dezembro de 2011

Entrevista com Hélio Rubens

Hélio Rubens Garcia, maior vencedor da história do Campeonato Nacional Masculino e eleito o melhor técnico do NBB 2010/2011, falou um pouco sobre a situação do VIVO/Franca Basquete, de conceitos do esporte e do basquete de uma forma geral.

A entrevista foi feita antes da partida contra o time de Brasília e Hélio destacou pontos que considera importantes e determinantes no basquete francano.

AMERICANOS E ENTROSAMENTO

O jogo de basquete é um esporte coletivo no qual há inúmeros movimentos ensaiados que levam tempo para ganhar conjunto, velocidade, passe na hora certa e percepção do momento apropriado para arremessar a bola na cesta. Tudo isso leva um tempo para aprender, por isso os times que mantém uma base de anos anteriores têm mais regularidade.

Nós sempre nos propusemos a lançar jogadores jovens. Esse ano seria o Léo (Meindl), o Felipe (Taddei) e o Lucas (Mariano). Infelizmente, o Léo e o Felipe estão fora do time (devido a contusões). Ainda assim, sentimos a necessidade de reforçar o time com três estrangeiros. Nós começamos a procurar, eu fui ao Pré-Olímpico, tudo isso com a previsão de que teríamos esses reforços pelo menos 20 dias antes de começar a temporada. E assim foi feito pela diretoria, só que devido a problemas de documentação os jogadores acabaram chegando com o campeonato em andamento.

Isso nos deixou em uma situação delicada, pois jogador estrangeiro não fala a língua do país, não conhece os companheiros, as características de cada um deles, os movimentos do time, tanto ofensivos, como defensivos e isso é uma coisa que leva um tempo para ser aprendido. E mesmo eles não sabendo o sistema de jogo do time, eu preciso colocá-los para jogar.

Além dessa dificuldade de entrosamento e de aprendizagem do sistema de jogo do clube, ainda temos que lidar com o fato de que os jogadores estrangeiros não vão atuar em algumas partidas. Então eu tenho que preparar o time. Por exemplo, o elenco que jogará contra Brasília já não poderá atuar contra Limeira.

Nós estamos lutando desesperadamente para conseguir um pouco de entrosamento e vamos tentar ficar na melhor colocação possível para os playoffs e ai já estaremos contando com um rendimento melhor, um conjunto melhor e um aproveitamento melhor. Agora, temos que ter humildade para reconhecer nossos erros e treinar para melhorar.

INDIVIDUALISMO/ INDIVIDUALIDADE

Todas as equipes já perderam nesta temporada do Novo Basquete Brasil. O problema é que nossa equipe estava perdendo totalmente desestruturada taticamente. Muitas vezes o jogador americano tem postura de querer resolver tudo sozinho, com individualismo. Mas eu quero atletas que saibam jogar pelo grupo, que tenham defesa. E isso é válido para os brasileiros também, pois esse é o caminho que o basquete no mundo inteiro está trilhando.

É preciso explorar o talento individual, a liberdade de iniciativa individual, dentro de um sistema coletivo que criou oportunidade para que essa individualidade se sobressaia. Existe uma diferença muito grande entre individualismo, que é jogar para si, e individualidade, que é explorar o talento de um jogador em um momento em que ele ajudou a criar para que o seu talento apareça.

COBRANÇA COM OS JOGADORES

Eu trato todos os jogadores de forma igual. O Helinho é meu filho, mas isso não tem diferença para mim, é um jogador como os outros, senão eu não vou conseguir dormir em paz com a minha consciência. Eu passo noites acordado, anotando, analisando partidas. Vai jogar quem estiver em melhores condições. Quem não estiver bem não vai jogar. Se tiver que jogar dois minutos vai jogar dois minutos e dar o melhor de si em quadra.

O sucesso que eu tive como técnico, aqui, no Vasco, em Uberlândia, é devido ao conceito que eu tenho de qual é a função do treinador, e a função do técnico depende muito da obediência dos jogadores, de acreditar naquilo que tem sido feito. E eu não falo só por mim, eu falo pelo que o mundo inteiro está fazendo.

CONCEITO DE DEFESA

Existe uma estatística muito interessante no basquete: há uns 30 anos, o basquete não tinha linha de três pontos e cada time podia ficar mais tempo com a posse de bola, eram 30 segundos. Hoje tem linha de três pontos e você tem 24 segundos e tem que atravessar o meio de campo em 8 segundos. Além disso, os placares estão muito menores do que eram antigamente. Isso demonstra o conceito de defesa. O nosso time foi vice-campeão nacional, porque estávamos entre as três melhores defesas do campeonato. Nesses jogos sofremos sempre acima de 80 pontos e perdemos... Eu não quero saber se o jogador marca 30 ou 40 pontos, eu quero saber como ele defende.

É isso, estamos lutando para melhorar nossa atuação, através de treinos e com humildade, para que o nosso time fique bem na fase de classificação. A partir daí, o campeonato zera e nos já estaremos com mais consistência e entrosamento, o que fará com que o time faça bons jogos e busque o título.

Como técnico, Hélio Rubens já atuou em Franca, Vasco da Gama e Uberlândia: Campeão Panamericano, nove vezes campeão brasileiro. Pela seleção masculina, Hélio dirigiu 96 jogos (64 vitórias e 32 derrotas) em 12 competições oficiais.

Fonte: Júlia Abrão.