ENTREVISTAS

JÚLIO CÉSAR PATRÍCIO, TÉCNICO DA SELEÇÃO BRASILEIRA SUB18 E SUB-15 FEMININA, EM ENTREVISTA EXCLUSIVA

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JÚLIO CÉSAR PATRÍCIO : MEDALHA DE PRATA NA COPA AMÉRICA SUB-18 FEMININA

            No belo litoral catarinense, terra da lendária Anita Garibaldi, Laguna foi aos poucos se inscrevendo seu nome no cenário do basquete. Anos se passaram e na década de 70 surge quem , em pouco tempo, colocaria sua cidade, seu estado, definitivamente no Mapa Múndi do Basquete: Júlio César Patrício.

            Júlio, formado em Educação Física na Universidade Regional de Blumenau, nasceu para ser um verdadeiro mestre que tem o dom de transmitir às crianças o que é o esporte e o que ele representa na vida cidadã e cívica de uma pessoa. Com seu dom de cultivar o amor, em forma de basquete, em seus atletas, ele foi caminhando muito além das quadras e chegando ao ponto mais alto onde todo atleta gostaria de chegar: vestir a camisa da seleção brasileira.

            E Júlio atravessou as fronteiras não só de seu estado, Santa Catarina, como do país, e levando consigo a esperança de toda a nação, em especial, a família do basquete. Este ano levou o Brasil a ganhar uma medalha no continente americano valendo como passaporte para o Mundial de 2013, colocando nosso basquete mais uma vez no cenário mundial.

            Conheci pessoalmente a pouco mais de um mês atrás,  na última fase de treinamento da seleção brasileira sub-18 feminina, em preparação para a Copa América. Sua dedicação, seu profissionalismo, seu companheirismo, alto conhecimento e o carisma que prende à todos em sua volta.

            Seu carinho por todos, por suas atletas chegando a carregar (literalmente) no colo sua atleta contundida (veja foto). Aqui aproveito para agradecer sua enorme atenção à imprensa, em especial a mim durante todos aqueles dias em que fiz cobertura dos treinamentos naquela cidade mineira.

            Agora quem vai falar é o próprio Júlio que saiu de sua cidade natal Laguna, e hoje é o nosso Grande Mestre do basquete que também é o treinador da seleção brasileira sub-15 feminina que disputará o Sul-Americano este ano

 

 Júlio, quero que você fale um pouco de sua carreira dentro do basquete, quando começou até chegar hoje com esta importante medalha no peito.

Fui como tantos outros um atleta amador, apaixonado por este esporte, mas infelizmente com limitações técnicas (rsrs). Mas o destino, desde muito cedo, já me mostrava que deveria pensar realmente em ser técnico. Mal tinha saído do Juvenil, na época 19 anos, já me convidaram em São José dos Pinhais-PR à assumir uma equipe Sub 15, foi em 1992 minha primeira experiência como técnico. Depois acabei indo morar em Jaraguá do Sul (1994), onde estou até hoje. Em Jaraguá comecei a fazer um trabalho com meninas no Instituto Educacional Jangada, logo estaríamos participando do Campeonato Estadual. Foi através do Professor Airton Schiochet ,que também é nosso coordenador atual do projeto de basquete de nossa cidade. Naquela época ele confiou no meu trabalho e principalmente no meu sonho de crescer como técnico. Foram muitos títulos a nível estadual e logo estava participando, sempre com ótimos resultados nos Campeonatos Brasileiros de base, sempre tentando dar dor de cabeça as Seleções Paulistas. Em 2008, talvez a melhor geração do basquete Catarinense, faríamos a final contra São Paulo em Joinville. As Paulistas tinham Damiris e companhia, seria uma grande final, mas Deus não quis ver este jogo e mandou um mar de água em cima de Joinville, infelizmente este jogo nunca aconteceu e acabamos dividindo o titulo com São Paulo.  O basquete feminino de Santa Catarina passou a ser respeitado na base e felizmente aconteceu o convite, através do grande  Barbosa  para acompanhar em 2008 uma seleção brasileira sub 18 como convidado, depois passei a ser convocado como auxiliar em muitas outras, sempre com meu grande amigo Tarallo, Bronze no Mundial Sub 19 no Chile,  que sempre confiou muito no meu trabalho. Não esquecendo do meu grande e pequeno amigo Cristiano Cedra, onde fomos campeões sulamericanos Sub 15 ano passado no Equador, onde ele era o Coach,  hoje meu irmão de coração. Toda esta história,  culminou em 2012 como técnico da Sub 18, na disputa da Copa América e essa medalha emocionante que conquistamos.

Para que nosso basquete cresça a cada vez mais, se torna necessário que ele seja forte em todos os estados, como é o trabalho a favor dele, realizado em seu estado (SC)?

Nossa Federação faz um bom trabalho. Temos Campeonatos estaduais  em todas as idades e os clubes dentro do possível investem na base. Ainda temos a entidade que cuida do esporte no estado (Fesporte), promove Jogos abertos em 3 categorias, adulto, sub 16 e sub 18, com isto nossos atletas competem o ano todo.

 Tudo se começa da base. E no basquete não é diferente, qual a idade ideal para uma criança iniciar jogando basquete e como será esta fase inicial de treinamentos para que no futuro, ela não venha apresentar vícios, sobretudo, de fundamentos?

Na verdade, penso que as aulas de educação física nas séries  iniciais tem um papel fundamental. Se a criança não for estimulada em toda sua plenitude motora  e cognitiva, teremos dificuldades no ensino-aprendizagem. Por outro lado, depois de passada a fase escolar, precisaríamos de profissionais  preparados,  sempre buscando a formação do atleta e não a busca incessante por resultados a curto prazo. Essa busca por títulos em mini, mirim e infantil, acaba infelizmente trazendo a precocidade na formação de futuros atletas.

 

 Nós que amamos a modalidade, sabemos de todas as dificuldades que ela passa, inclusive, no feminino. Precisa de um replanejamento, com participação de todos os segmentos da sociedade e principalmente, do poder público. Enfatizo este último porque ele faz as leis e etc..Partindo de uma premissa: o nosso país adotou a modalidade esportes nas escolas e você Júlio é o coordenador do projeto “Basquete na Escola”. Em que idade a criança deveria começar e como seria o programa de seu primeiro ano de suas atividades?

Não sou Coordenador do Projeto Bola da Vez aqui em Jaraguá. Na verdade usufruo deste grande projeto em nossa cidade. Hoje temos em Jaraguá, vinte núcleos, abrangendo mais de 1300 crianças entre 09 a 14 anos.  A empresa de motores WEG há mais de dez anos aposta no basquete, como ajuda no contexto social da cidade. Logicamente com tantas crianças, acabamos sendo referencia no estado tanto no feminino, quanto no masculino. As crianças que se destacam nesses polos, são levadas a um  núcleo de excelência e podem desenvolver melhor os fundamentos do jogo.

 

 Vejo que em muitas competições entre categorias de base, muitos treinadores priorizam a vitória e o título, esquecendo-se um tanto dos fundamentos básicos. Você tem um projeto para sanar esses problemas?

Eu sou apenas um treinador em Santa Catarina, muito preocupado com o futuro do basquete.  Infelizmente o que posso passar de experiências que estou vivendo nas competições internacionais. Penso que a Escola Nacional de Técnicos foi um grande avanço, porém não sei se ela esta abrangendo a parcela principal dos técnicos, que são aqueles que vivem no anonimato, garimpeiros nesse país imenso. De alguma maneira precisaria ser mais barato e ainda mais regional. Os técnicos dos grandes clubes têm muito mais acesso as informações e até mesmo recursos para viajar para locais mais distantes. Agora, este professor de escolas publica, fica claro que não investirá valores que não podem bancar. Poderia ser através do Ministério do Esporte, realizar clinicas nos Jogos Escolares Brasileiros, assim como já faz a CBB nos eventos por ela realizados.

 

 Muitas equipes de alto nível têm dificuldades para atacar contra defesa por zona. Por que ocorre isso, sendo que, esta forma de defesa é considerada muito vulnerável?

Penso que quanto mais espaço para jogar, fica mais evidente a necessidade dos fundamentos. Como foi falado anteriormente da dificuldade e precocidade em resultados, isto reflete muito no adulto. Quando olhamos jogadores profissionais realizando uma bandeja pelo lado esquerdo com a mão direita, nos causa calafrios... rsrs. Mas a tendência das novas gerações no Brasil é sempre melhorar, hoje os técnicos estão mais conscientes em relação a isto.

 

Nos aspectos técnicos e táticos, o nosso basquete evoluiu pouco ou foram as demais potências do mundo que evoluíram demais e o Brasil não conseguiu acompanhar essa evolução?

Cada País tem uma maneira de jogar ou uma filosofia de jogo. Penso que antes ficava mais claro qual era a do Brasil. Com o advento da internet e até  mesmo a facilidade de participarmos de clinicas internacionais, acabou tirando um pouco da nossa identidade, ficamos hoje sem saber o que fazer e quem esta certo, será o basquete praticado nos USA ou na Europa. Bem acredito muito na qualidade dos fundamentos treinados a sério; preparar o futuro atleta para que ele tenha prazer em defender; criar desde muito cedo responsabilidade no jogo; fazer com que estes jovens entendam o jogo; tudo isto e muito mais se colocado em qualquer filosofia dará certo.

 

 

 

 Agora, quero saber como é a emoção de dirigir uma seleção nacional e ganhar uma medalha altamente significativa?

Olha, é algo inacreditável!! Quando coloquei uma camisa da Seleção Brasileira pela primeira vez, foi algo indescritível. Sou  técnico de fora do principal eixo do basquete, isso é muito difícil para técnicos que chegam à Seleção. Sempre pensei e sonhei em um dia poder dirigir o Brasil, isto aconteceu até mais rápido que pensava. Sou muito grato às pessoas que me deram a oportunidade de mostrar que mesmo longe de São Paulo, existe trabalho.

Como falei em uma entrevista a CBB, aos poucos vai ficando mais claro o que foi aquela final da Copa América. Ainda mais legal e emocionante, foi ter assistindo atrás do nosso banco o Tarallo (técnico da adulta) meu grande amigo e uma pessoa que me ajudou muito. Contestado por muitos, posso afirmar aqui que este cara merece nosso respeito. Espero que possa trazer outros resultados significativos para nosso País.

 Como está seu planejamento para o Mundial de 2013?

Nosso departamento técnico esta se reunindo para criar um bom projeto para 2013. Saibam que sempre é vontade da CBB de aumentar o período de treino, sabemos que quanto mais treino podemos aumentar nosso nível de competitividade.

 

 Um plano de massificação pode aparecer muitas meninas para nossas próximas seleções? Por exemplo, conheço uma menina de 15 anos e 1,81m de altura, que joga em Araraquara e sua equipe só disputa liga regional e como esta menina poderia ser vista pela comissão técnica da seleção brasileira?

Todos que trabalham nas comissões técnicas estão sempre muito atentos às novas atletas surgindo. Mas também pode ter  contato direto aos técnicos e até mesmo a CBB informando de determinada atleta, com certeza de alguma maneira será observada.

 Fale de um  fato inusitado acontecido com você, durante sua vida de treinador?

Foram muitos... rsrs, mas considero o nascimento da minha filha a pior. Estava trabalhando  a 60 km de Jaraguá do Sul (nessa época dava treino para escolinha também) e de repente aparece a diretora da Escola na quadra  me dando parabéns dizendo que minha filha tinha nascido. Nossa, foi um grande susto, tinha saído de casa pela manhã e minha mulher não tinha nenhum sinal. 

 

COMPETIÇÃO DE TRÊS PONTOS

Uma cidade – Laguna

Um país – Brasil, com certeza.

Prato preferido – Camarão

Um sonho realizado – Técnico da Seleção Brasileira

Um sonho a realizar – Um ouro em competição internacional.

Um ídolo no basquete – enquanto criança, todos gostavam do Jordan, eu sonhava em ser o Isiah Tomas do Detroit. rsrs

Uma mulher bonita – Cindy Crawford

-Imprensa – Imprescindível 

Um livro – Jogando Para Vencer, John Wooden

Um filme - Grease

Uma música - Patrick Swayze - She's Like The Wind

Amor – Meus três filhos

Amizade – Difícil hoje, mas os poucos que tenho são meus irmãos.

Deus – Síntese de tudo

O que você mais gosta – De voltar para casa

O que mais detesta – Ser enganado

A cesta mais certeira de sua vida – Acreditar que poderia chegar aonde eu queria.

 

Júlio, quero que deixe uma mensagem para quem gosta de basquete e algo que possa fazer para melhorá-lo.

 

"Não sabendo que era impossível, foi lá e fez"

 Jean Cocteau

 

Esta frase sempre me tocou muito, talvez ela resuma como devemos proceder a  frente aos desafios da vida. Espero realmente que todos sonhem e não deixem de acreditar, a fé realmente nos trás surpresas  incríveis.

Grande abraço meu amigo!!!

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