Referência internacional, Ricardo Bojanich fala sobre Mini Basquete e recorda parceria com a FMB

Existem amigos que, mesmo com pouco tempo ao nosso lado, conseguem deixar sua marca em nossas vidas. Ricardo Bojanich se enquadra nesse grupo. Referência internacional no treinamento do basquete de base, o técnico argentino foi figura central no Programa de Desenvolvimento do Basquete Mineiro (PDBM), que faz parte do Planejamento Estratégico da Federação Mineira de Basketball. No ano passado, o professor ministrou cursos e palestras em território mineiro. Foram nove meses de intensa contribuição, sobretudo para o desenvolvimento e implementação do Mini Basquete no estado.
O “cabeça laranja”, alcunha que recebeu da sua esposa, mostra novamente sua generosidade ao revelar, em entrevista exclusiva ao site da FMB, um pouco do que passa em sua mente. Bojanich, que vive atualmente em Pergaminho, na Argentina, falou sobre seus projetos atuais, fez um balanço da parceria com a FMB e discutiu a importância do trabalho de formação, não só de atletas, mas também de treinadores de basquete.
O basquete de Minas Gerais é muito grato ao seu trabalho com a FMB, por isso, gostaria de saber o que você tem feito ultimamente? Com o que tem trabalhado?
Me orgulho do trabalhado na Federação Mineira de Basketball, em 2015. Foi uma grata experiência na minha vida profissional. Agora, estou participando de vários projetos, sem que um seja mais importante do que outro. Trabalho na Escola Nacional de Treinadores, na Clínica de Revalida, na Argentina. Também estou trabalhando com a LNB, no Brasil, com a Liga de Desenvolvimento (LDB), junto a um treinador espanhol, Jordi Fernandez, o treinador sérvio Aleksandar Glisic e Flávio Davis, daí de BH, técnico do Minas. Há também o Curso de Mini Basquete Virtual, mais uma consultoria em uma associação de basquete na província de Córdova (Argentina), e outros pequenos projetos que vou desenvolvendo no dia-a-dia.
Participo também de um programa muito amplo aqui na Argentina, com o modelo de quadras onde os jogadores de sete a oito anos revisam seu campo de posicionamento, técnicas e compreensão de jogo. Aqui, assim como no Brasil, há a necessidade de termos formadores de treinadores, formador de formador. Agora, temos a oportunidade de capacitá-los, de passar nosso conhecimento para os novos técnicos.
Qual a importância do Mini Basquete para a formação dos pequenos atletas?
O Mini Basquete é uma das etapas mais importantes na formação de um atleta, então eu entendo que, num país que não tem um mini muito forte, é muito difícil ver a evolução do jogador, pois a base precisa estar muito sólida, muito bem desenhada. Creio que o mini começa aos oito, já com atividades de pré-Mini Basquete. Com a formação motriz, a formação perceptiva, a formação técnica e a formação conceptual, mais a formação lúdica e cognitiva dos garotos, há a possibilidade de adquirir conhecimentos mais sólidos, que sirvam para a formação de toda uma vida para o atleta.
É difícil criar um jogador aos 13, 14 anos, quando a questão cognitiva não foi trabalhada. Pode se recuperar, mas é menos provável que tenha uma evolução maior que um jogador que participou de todo o processo de formação. O Mini Basquete é uma usina de basquete nacional, é nele que está o futuro. Sem ele, é muito difícil ter nível e massificação.
Ainda nessa questão, aqui em Minas Gerais realizamos recentemente muitos eventos de Mini Basquete, inclusive o Encontro Sub 12. Gostaria que você falasse um pouco sobre sua experiência aqui. Qual avaliação que faz do período que passou com a FMB?
A experiência na Federação Mineira foi muito rica e grata, pela qualidade dos profissionais que conheci e sobretudo porque conseguimos fazer muita coisa, em tão pouco tempo. Os programas de capacitação, de desenvolvimento, de seleção e de consultorias de Mini Basquete foram feitos em um dia-a-dia muito intenso. Mas, ninguém pode, em menos de um ano, mudar muita coisa, mas o mais importante é que os técnicos puderam mudar suas cabeças. Mudança de mentalidade é, para mim, desaprender o aprendido e incorporar novos conhecimentos, novas formas de desenvolvimento.
Mas é claro que sempre é necessário trabalhar mais tempo nesse tipo de situação, porque são muitos anos fazendo a mesma coisa. E o basquete de alto nível de desenvolvimento é um pouco diferente do que tem se praticado no Brasil. Mas, sabido desse potencial que existe em Minas Gerais, na FMB, há de se seguir trabalhando para manter esse desenvolvimento. A capacitação deve ser permanente, pensando no futuro.
A respeito do Mini Basquete, com Álvaro Cotta (presidente), Ivan Mauad (gerente), e toda a equipe da FMB, implementamos o início do pré-Mini Basquete, de três contra três, que é um grande acerto aqui na Argentina. Esses trabalhos são importantes na questão da massificação do esporte. É uma alegria imensa saber do sucesso desses eventos no estado, fico muito feliz em saber que há tantas equipes inscritas nessas atividades. Com isso, há a possibilidade de ganhos de trabalho e de que os treinadores se especializem na modalidade.
Você fala bastante da importância da formação não só dos jogadores, mas também na capacitação dos treinadores e das instituições ligadas ao basquete. Com relação a isso, como vê a situação do Brasil? Em quais pontos a formação dos profissionais que lidam com os jogadores precisa melhorar no país?
Creio que o conhecimento das capacidades, não só físicas, mas de desenvolvimento dos jogadores, a preparação física, psicológica, cognitiva, técnico/tática, estratégica, todos esses aspectos devem ser dominados pelo técnico. Ele não deve saber só de basquete, precisa também conhecer o nível dos garotos à sua disposição. É necessário dedicar vários momentos aos jovens, criando um vínculo com os atletas, porque eles precisam confiar em seu treinador.
Existem treinadores que tem um tratamento muito mais reto, mais “militarizado”, e isso não chega bem no coração do atleta. É preciso compreender também que o erro faz parte do processo de aprendizagem. Por exemplo, quando um atleta comete algum erro durante o jogo, e você substitui ele logo em seguida, você não o incentiva. É necessário estimular o atleta a ser mais criativo, e não tão automático em relação ao que o treinador diz. A liberdade em jogo faz parte da formação, sem isso é muito difícil fazer com que o jogador tenha uma grande evolução.
Para finalizar, gostaria que você deixasse uma mensagem para os treinadores e para os jovens atletas também. E resumisse, em algumas palavras, o que o basquete representa na sua vida.
Minha mulher fala que eu tenho a cabeça laranja. Isso é verdade, mas não é a única coisa que tem que se passar na vida de um treinador de basquete. É preciso se dividir entre treinador e formador de pessoas, cada treinador tem que ter isso dentro dele.
Quando um ex-atleta chega de mãos dadas com seu filho, e confia seu bem mais precioso para o treinador que o formou, reconhecendo sua importância. Isso não tem preço. Não há dinheiro no mundo que pague esse tipo de coisa. Os êxitos em torneios, em campeonatos, são passageiros. Mas o prestígio que se consegue com tempo, com o dia-a-dia de trabalho, com a sabedoria, não. O resultado de um jogo termina ali, mas o resultado de um projeto muitas vezes é mais importante que um placar de uma partida.
Texto: Arthur Sala Minoves.
Fonte: FMB