Passagem de nível Metodologia em Basquetebol, por José Almeida

Passagem de nível Metodoloiga em Basquetebol por José Almeida*
Exercer um cargo, uma função, dentro de uma carreira, uma profissão, pressupõe um conjunto de competências, dentro das quais podemos estar mais ou menos avançados, mais ou menos confortáveis, mais ou menos acomodados.
Ao ter o cargo de treinador de basquetebol pretendo exercer uma função de professor. Dentro dessa função uma das mensagens que tento passar aos alunos é a de não se conformarem com o nível das competências que já possuem mas sempre quererem chegar ao nível seguinte e, para que isso aconteça, não podem ter medo de errar. Têm que arriscar sair daquilo a que hoje chamamos (e parece-me uma boa designação) a sua “zona de conforto”. É lógico que assim seja mas não é simples que assim aconteça. Não porque não seja entendido mas devido à resistência que a mudança, invariavelmente, encontra e que se torna um fator dificultador da aprendizagem e, consequentemente, da passagem para o nível seguinte de competência.
A perfeição é algo que, convenhamos, é impossível de ser conseguido mas, a sua constante perseguição, é o que nos pode tornar na nossa melhor versão.
Isto é válido tanto para o aluno como para o professor.
Como treinador tenho que dominar as matérias que ensino mas não só. Como disse John Wooden, “não podemos dizer que ensinamos se eles não aprenderem”. Tão importante como saber a matéria é saber como a ensinar e, na minha opinião, é aqui que um treinador, um professor, terá os grandes desafios da sua carreira e será aqui, mais que na quantidade de matérias ou na profundidade de cada uma, que ele terá a definição dos seus níveis de competência.
“Há mais que um caminho para o cume da montanha” diz Miyamoto Musashi em “The book of the five rings” e acredito que é verdade.
Existe sempre mais que uma abordagem para o ensino de cada matéria e é, normalmente, desenvolvida por um ou mais “Mestres”. São os seus seguidores que a transportam no tempo e no espaço. Chamamos-lhe “Escola”.
Quando tomamos contacto com uma “escola” podemos ter a tendência de usar o seu método doutrinalmente. Se tivermos a ‘mente aberta’ continuamos a nossa demanda pela perfeição e procuramos conhecer outras abordagens (“escolas”). Se tivermos essa capacidade podemos escolher o melhor de cada abordagem para dar resposta aos problemas com que nos deparamos no nosso caminho do ensino do jogo.
Também acredito (mais que uma opinião é um sentimento pessoal) que mesmo após a aquisição do conhecimento, seja o das matérias em si, seja o das abordagens que ditarão o modo como as ensinar, isso não será suficiente para nos tornar melhores como treinadores, como professores. Apenas isso, não nos passará para o nível seguinte. O que nos tornará melhores tem que ser encontrado “dentro de nós”.
Cada ‘passagem de nível’ tem uma barreira. É em nós que ela se encontra, por isso, é em nós que ela se remove. Como conseguimos remover essa barreira? Se tivermos a sorte de conhecer alguém que já fez essas travessias devemos procura-lo e valorizar os momentos que passarmos com ele (obrigado Henrique Santos, obrigado Prof. Mário Barros). Podemos sempre tirar partido de livros, de vídeos, de aulas. Nada disso nos vai mostrar como remover a barreira mas pode “tocar-nos”, “abanar-nos”, fazer-nos sentir a necessidade de a remover.
Hoje fala-se muito de “paixão”, jogar com paixão, treinar com paixão. Não discordo. Mas o que é isso? De tanto ser usada gratuitamente a palavra pode perder-se nas linhas da inconsequência. O que temos, então, de encontrar “dentro de nós” que será a força para remover todas as barreiras?
Acredito que um treinador, um professor, tem primeiro de encontrar “o espírito de missão”. Para sabermos que é a nossa “missão” temos de avaliar o grau de compromisso que estamos dispostos a dedicar-lhe, do que estamos dispostos a abdicar, se temos o que é preciso para a cumprir. Quando a dúvida nos duplicar o peso da bagagem, a visão de sermos trucidados pelo comboio do medo nos fizer paralisar, quando a responsabilidade de termos nas mãos o mais precioso barro da natureza nos fizer faltar o ar e fugir o chão mas mesmo assim a nossa vontade, mais que o corpo, nos levar nessa direção, então sabemos que é “paixão” e atravessaremos, com segurança, a passagem nível com a bagagem do nosso conhecimento porque, afinal, não havia barreira.
* José Almeida é professor e treinador de Basquete,em Portugal