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15/07/2020

LIGA NACIONAL DE BASQUETE E SUA CRIAÇÃO EM 2007

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A ideia de criar um novo movimento para o basquete brasileiro começou em Las Vegas, 2007, quando Kouros Monajdemi, então presidente do Minas Tênis Clube, viu in loco a eliminação da Seleção Brasileira no Pré-Olímpico da FIBA Américas. A insatisfação por lá era geral…

“A insatisfação já era grande, o basquete brasileiro estava dividido, desunido. Havia até um grupo de basqueteiros em São Paulo que deu origem a uma liga adjacente ao campeonato da CBB. Enfim, estava uma coisa terrível. Em Las Vegas estavam comigo o Hélio Rubens, o Jorge Bastos… todos reclamando. Então pensamos em criar alguma coisa que desse sustentação ao basquete”, disse Kouros.

Para dar início ao movimento, os executivos foram direto ao problema: a desunião entre as partes que fazem o basquete.

“O que me revoltava, eu como presidente do Minas, era que quem criava e desenvolvia os atletas eram os clubes e agremiações, ao invés das escolas, e as confederações não envolviam os clubes na política estratégica do basquete brasileiro. Era o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e as Confederações, e os clubes ficavam à deriva”, contou o primeiro presidente da LNB.

A matemática era simples. Sem união, sem sucesso. Mas mais do que isso, Kouros Monajdemi pronunciou um mantra extremamente esclarecedor que guiaria toda a trajetória da LNB: unidade na diversidade.

“Tínhamos que chegar a uma unidade. A unidade é a célula-mater de qualquer empreitada de sucesso. Esse é o desafio: a unidade na diversidade. Criamos um objetivo e todos focam nesse objetivo. Mas as opiniões são divergentes até hoje, e temos que ter a capacidade de unir essa divergência em torno de um objetivo. Sempre acreditei nisso e não seria diferente da liga”, declarou.

Na época, Kouros e o Minas faziam parte da Confederação Brasileira de Clubes. A insatisfação com esse modelo era geral por parte dos integrantes, que costumavam convidar os gestores das confederações para dar explicações do porquê não havia união com os clubes.

“Todos diziam coisas como ‘ah, vocês participam, existe uma hierarquia, vocês elegem os seus representantes…’ Isso não nos descia. Então procuramos as pessoas que iniciaram esse trabalho de clubes e ligas para conversar”.

Nessas conversas estiveram os representantes de grandes clubes do país: o próprio Cássio Roque, que era o então presidente da liga alternativa de São Paulo (Associação dos Clubes de Basquete do Brasil), Rubens Calixto (Franca), João Fernando Rossi Jorge Bastos (Brasília) e Arnaldo Szpiro (Flamengo).

“Sentamos juntos e definimos que a única forma de ter unidade na diversidade era o diálogo, consultas… Era nisso que nos pautamos. Unimos um presidente de uma liga, com os clubes que não estavam na liga, e assim chegamos a uma união que nasceu nessa célula que era a Confederação Brasileira de Clubes”, contou Kouros.

Todos saíram preocupados dessas primeiras reuniões, pois ainda havia desconfiança do que era desconhecido, incerto. Afinal, o conceito de liga não era nada comum no Brasil. No final, o modelo venceu e hoje é um exemplo de unidade na diversidade, como diz Kouros.

“Temos hoje clubes dos mais diversos tipos e condições, sociais, de futebol, agremiações… Mas hoje conseguimos nesses 13 anos criar um conceito de que o mais importante é o basquete, em segundo vem os nossos clubes. Vamos lutar em quadra pela competição que é o esporte, mas antes de mais nada vamos levantar o basquete brasileiro.

A promessa estava feita: primeiro o basquete, depois os interesses particulares. Fazer basquete e jamais competir com basquete. Seja confederações ou qualquer instituição, a Liga Nacional de Basquete quer ajudar.

“Nem sempre somos bem compreendidos, mas vamos insistir e mostrar que o modelo padrão hoje de sucesso em qualquer agremiação esportiva é a liga, como Euroliga, NBA… Queremos fazer basquete e tornar o Brasil novamente um celeiro para que possamos seguir fazendo basquete”, finalizou Kouros Monadjemi.

Quebrando a desconfiança

Por mais que tudo parecesse lindo, a desconfiança ainda pairava no ar. Até porque havia um estigma instaurado no basquete brasileiro de “Times de São Paulo x Times de Fora de São Paulo”. Não havia uma comunicação entre eles.

Presidente da Liga Nacional de Basquete entre 2013 e 2016, Cássio Roque presidia a Associação dos Clubes de Basquete do Brasil que, por mais que levasse um nome de dimensão nacional, só havia instituições paulistas, o que escancarava a distância entre os mesmos.

“Por pura praticidade e até uma certa inocência da minha parte, as reuniões da Associação eram feitas na Federação Paulista de Basquete, então ficava uma conotação negativa de que os clubes de São Paulo queriam dominar ou coisa do tipo, e não era. Mas por isso não conseguimos uma unidade. Percebemos que todos os clubes do Brasil tinham os mesmos desejos, mesmos anseios, mas não conseguiam nos unir, pacificar as conversas, tinha muito ruído”.

A formação da Liga se deu quando, no meio das reuniões com os demais dirigentes, Cássio Roque foi apresentado a Kouros Monadjemi. Não precisou de muito para sentir a sinergia. A partir daí o processo começou a avançar.

“Fazer esporte amador ou semi-profissional no Brasil, que é um país em que 90% das notícias esportivas na mídia são de futebol, é uma dificuldade enorme, e todos os clubes naquela época, mesmo com todas as dificuldades, conseguiam fazer basquete. E por que todos unidos não poderiam fazer uma liga?”, indagou Cássio Roque.

Em total sinergia com o discurso de Kouros, o então presidente da ACBB não titubeou em relação ao consenso estabelecido na época: a liga é a voz única dos clubes.

“Em primeiro lugar está o basquete. Os interesses coletivos têm que prevalecer sobre os individuais. A liga é a voz única dos clubes. Não é cada um fazer por si só. Tivemos a dimensão da importância dessa união entre nós. Sempre tivemos a divergências, mas nunca gerou discórdia ou hostilidade. Meu clube é importante, mas a liga é mais importante, porque sem a liga meu clube passa a não ser nada”, finalizou Cássio.

A chancela da CBB

Ainda faltava um processo: a chancela da Confederação Brasileira de Basquete, que era necessária para ser reconhecida como liga nacional oficial do país e poder disputar competições internacionais e ter seus atletas aptos a defender a Seleção Brasileira em torneios da FIBA.

Caso isso não acontecesse, o NBB não seria impedido de acontecer internamente, mas internacionalmente seria considerada uma liga “pirata”. Essa era uma definição complicada, que colocaria fim ao reinado da CBB. Além disso, seria o divisor de águas para a existência da LNB.

“A minha palavra ao Grego (presidente da CBB na época) foi que a LNB estava sendo criada para ajudar a CBB, e não para competir com ela. Por alguma razão ele acreditou na minha palavra e até foi chamado a atenção pelo presidente do COB na época”, contou Kouros.

Kouros completou externando sua gratidão ao ex-presidente da Confederação Brasileira de Basketball que, hoje, atua na gestão da Consubasquet (Confederação Sul-Americana de Basquete), entidade que organiza a Liga Sul-Americana de Clubes.

“Por isso digo que, apesar de tudo, somos, sim, gratos ao Grego por ele ter acreditado em mim de que nós jamais lutaríamos contra a CBB”.

A parceria com a Globo

Quando a chancela da CBB foi concedida oficialmente, Luiz Fernando Lima, diretor de esportes da Rede Globo, ligou a Kouros questionando se a informação era verídica.

“Ele me perguntou: é verdade mesmo? Vocês têm o papel? (risos). Ele não acreditava!”, contou Kouros.

Depois da confirmação, a Rede Globo fez uma proposta tentadora: um contrato de 10 anos, com 50 a 60 jogos televisionados no SporTV e as Finais na Globo aberta. Tudo isso sem pagar valor algum, mas com o compromisso de assumir com exclusividade a parte comercial.

Levei a proposta aos clubes. Estudamos, entendemos que seria benéfico. Acreditamos que a Globo poderia nos dar uma projeção interessante, como nos deu e acelerou o desenvolvimento da Liga, por toda sua imagem e trabalho em conjunto”, disse o primeiro presidente da LNB.

Foi um sucesso! A partir daí, o NBB teve início sem patrocínio, “com a cara e a coragem”, e deu início a uma nova era no basquete brasileiro.

Fonte: LNB

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